terça-feira, 18 de junho de 2013

“Pelada na praia” (1 e 2)

O que eu gostava mais de fazer na praia?
Andar, velejar, “Wind surfar”, esquiar, tomar sol, paquerar?
Tudo isso, não exatamente nessa ordem.
Mas por algumas temporadas, o melhor era a pelada no fim do dia.
Não, não era nenhuma amiga ou freqüentadora da praia que praticava o nudismo. Era aquele futebolzinho nas tardes de verão, quando o sol teima em não ir embora até quase oito da noite.
O auge foi entre inicio de 1975 até o final daquela década.
Primeiro era na praia mesmo, naquela areia fofa que não favorece o meu futebol clássico e de toques.
A partir de 1977, improvisamos um campinho na entrada do “clubão” e aí, ficou melhor para mim. Os caiçaras improvisaram umas traves com bambu, e até rede alguém arranjou de um clube de São Sebastião, usadas e com alguns buracos, é claro,.
Já não ia mais ter que jogar na areia macia e poderia desfilar minha arte num campo de grama... grama?
Lembro que o Professor César “Zé Colméia”, de Educação Física, dizia uma frase que é atribuída ao “Neném Prancha”, figura Carioca, mestre em frase de efeito sobre futebol:
“A bola é feita de couro, o couro vem da vaca e a vaca come grama... sendo assim, lugar da bola e na grama”, isto é, no chão, rolando de pé em pé.
Com duas ressalvas: a bola de muitos anos para cá, não é de couro e o campinho que fizemos, também não tinha tanta grama, e onde tinha, não era uma “mesa de bilhar”...
No campinho, de tamanho razoável, jogavam com folga seis a linha, ou até sete, se a freguesia fosse muito grande.
Para lá iam, além dos sócios do clube, os amigos que tinham casa na praia, garçons, pessoal da cozinha e funcionários do clube, e muitos caiçaras.
Era aquele esquema: vinte minutos, entrava outro time rapidinho e assim íamos até escurecer, já com o desfalque do pessoal do restaurante que tinha que entrar  para servir o jantar.
Muitas coisas engraçadas aconteceram naqueles verões (na área futebolística, porque na paquera, como os “Cassetas” eu não pegava ninguém).
Tenho algumas ainda bem guardadas na memória.
Todo ano havia certa renovação nos freqüentadores do racha e um dia, no começo de uma temporada, colocaram dois caras para escolher os times.
Normalmente, são dois líderes, ou caras que jogam melhor.
Sempre também, os “pernas-de-pau”, os que não levam jeito para chutar uma bola e principalmente os gordos, ficam por último na escolha.
Nesse dia só haviam dois times (em dias de adesão total eram quatro ou cinco).
Começou a escolha, e nenhum dos líderes me conhecia (pelo menos jogando).
“Par ou impar”.
Escolhe daqui, escolhe de lá e vai indo.
Esse.
Aquele de verde, aquele de óculos, e eu ficando...
Aquele de camisa do Corinthians, esse magrão, e eu ficando...
Quando faltavam apenas dois, o cara olhou, olhou, pensou e disse:
“O gordinho de azul”... o “gordinho”, era eu!!
Caramba! Apesar de saber que era gordo, nunca tinha sido explicitamente chamado assim, principalmente no futebol.
Humildemente, tirei a camisa. Sim... ainda por cima meu time era o “sem camisa”, o que mostrava nitidamente que o capitão do meu time tinha razão. Eu era gordo mesmo!
Sim, gordo, mas tinha qualidade. Além de tocar bem a bola, organizava o time e desarmava também...
Mas era gordo, essa era a realidade.
O que aconteceu?
Cheio de brios, fiz minha melhor partida naquele estádio, digo, campinho.
Fiz gol de direita, de esquerda, um de cabeça, dei assistências e marquei na volta da bola. Se fosse à época da TV Tupi, ganhava o Moto-rádio das mãos do Eli Coimbra!
Jogamos dois jogos e no fim, o capitão, que não me conhecia (no campo), veio falar comigo:
”Poxa, não imaginei que você jogasse tão bem, eu não te conhecia 
jogando!”
Depois de ganhar os dois jogos, só emendei:
“Então, prazer em “me” conhecer!”








“Pelada na praia” (2) ou “Na praia, todos somos iguais... ou quase!”
Sempre disseram uma coisa interessante que acontece na praia: você nunca sabe ao certo com quem está conversando.
Lá na areia, na beira do mar, todos estão de shorts, biquínis e maiôs.
O cara pode ser senador, garçon, deputado, caseiro, empresário da construção, cozinheiro, engenheiro, motorista, cientista... e médico, qualquer coisa. Voce não vai saber, se não perguntar.
Era assim que acontecia, quando íamos para o campinho das Cigarras jogar aquele futebolzinho das temporadas de verão (veja: “Pelada na praia).
Não que estivessem de biquíni!
Mas todos sempre de shorts, camiseta e chuteira (ou tênis).
Se bem que alguns trogloditas, como o marinheiro Jaime, o cara mais forte da praia, jogava descalço, mesmo quando o jogo foi transferido da areia fofa da praia, para o gramado improvisado no clube.
Gente boa, mas ninguém entrava em dividida ou discutia com ele no jogo, não sei por quê!
Um dia, ainda no “areião” e não conhecendo direito os jogadores e o próprio, dei duas “canetas” nele, o que depois do jogo levou alguns amigos a comentarem:
“Você é louco, bola por baixo das pernas do Jaime!”
Eu nem imaginava que teria corrido perigo de morte (e não “devida” como dizem nos noticiários até hoje!). Eu o havia conhecido naquela temporada, e até ficamos amigos (é bom ter amigos fortes...)
Quando eu disse que na praia todos ficamos todos iguais, é porque certo dia estávamos a caminho do campo e o “Japonês”, como o chamávamos, levando a bola na mão, me perguntou por que eu não estava jogando.
Eu disse que tinha distendido algum músculo no abdômen e não conseguia dar arrancadas. Ele perguntou como me machuquei (que movimento eu tinha feito).
Expliquei com detalhes.
Ele pediu para eu fazer uns movimentos e deu o diagnóstico:
Distensão no “reto-abdominal”!
Nossa, fiquei espantado.
“Você é médico?”
“Sou, ortopedista...”
Me explicou qual foi o problema, receitou um remédio e uma pomada.
Depois de uns dias fui dar conta do tamanho da minha ignorância!
O “Japonês”, aquele que era mais um amigo da praia e que eu para variar não sabia o que fazia na vida, era simplesmente o médico do COB, doutor em Ortopedia, Victor Matsuda!

Grande zagueiro... e ORTOPEDISTA!

Nenhum comentário: