terça-feira, 18 de junho de 2013

“A sonequinha” (1970

Você sabe aquela “sonequinha” que você dá depois que o despertador toca?
Hoje, os despertadores digitais (e celulares) até tem essa função. É só programar mais uns minutinhos e pronto.
Porém, em 1970, isso era ficção, se você virasse para o lado e ninguém te chamasse, perdia a hora.
Naquele ano, minha família morava no quinto andar do prédio do Liceu Eduardo Prado, escola que meu pai era diretor/proprietário.
Quem conheceu meu pai sabe que era muito rigoroso em todos os sentidos, principalmente com pontualidade. Até hoje ele conta que essa foi a razão de colocar um enorme relógio no ponto mais alto daquele prédio no Itaim - Bibi.
O setor dos quartos consistia num enorme corredor (pelo menos para o pequeno Silvio, era muito longo) com quatro quartos, um ao lado do outro. Primeiro, a suíte dos meus pais, segundo o quarto onde eu dormia com dois irmãos, depois mais dois quartos dos mais velhos e lá no fim o banheiro (éramos, e continuamos em cinco filhos...).
Pois nossa rotina em dias úteis era a seguinte: todos acordavam perto das sete horas, se arrumavam rapidamente, tomavam seu desjejum (essa foi boa!) e iam, ou melhor, desciam para as aulas ou para o trabalho, caso dos dois irmãos mais velhos.
Cada um tinha seu despertador, mas acordávamos mais ou menos no mesmo horário, mesmo minha entrada sendo mais tarde.
Porém, um dos irmãos, sempre dava uma dormidinha a mais.
Meu pai saía do seu quarto um pouco depois, por volta das oito, para tomar o café, ler o jornal (o que faz até hoje), e depois trabalhar (o que não faz mais).
Com sua delicadeza peculiar, abria a porta do seu quarto de forma brusca, o que, com o deslocamento de ar no corredor, provocava um barulho de tonalidade grave.
Nessa hora, o irmão dorminhoco, despertava e pulava para dentro do armário, pois sua cama ficava estrategicamente ao lado guarda-roupas.
Ele fazia isso, pois quase sempre, o Macedão passava em revista os quartos para ver se “alguém”, eu disse, “alguém”, não continuava na cama.
O espertinho, esperava uns minutos e quando “ouvia” que meu pai tinha entrado no elevador e deixado o quinto andar, saia em disparada pelas escadas, para pegar a segunda aula.
Continuando a rotina diária da casa, minha mãe, lá pelas nove, abria as janelas dos quartos, arrumava as camas, e ia pegar os acolchoados no armário (ainda não chamavam “edredons”).
Certo dia, absorta e sossegada, Dona Zélia abre o armário e leva um baita susto!
Nove e quinze da manhã, e um de seus filhos, tirava a “soneca”, confortavelmente em cima dos edredons.
Eu morava no 5º andar desse prédio até 1971

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