quarta-feira, 27 de junho de 2012

Morando na escola...

Lembramos de muitas coisas interessantes de nossa infância e adolescência.
A coisa que mais me marcou foi o fato de ter morado em cima da minha escola desde os cinco anos de idade.
Não, não fique com pena! Eu não era um “aluno problema” internado numa escola (era assim que ameaçavam as crianças naquela época; hoje ameaçam tirar o celular ou a internet...).
Na verdade meu pai era Diretor e proprietário de uma escola em São Paulo, e fez um grande apartamento no quinto andar do prédio.
Agora você vai pensar: que moleza, filho do dono, etc...
Algumas vezes isso era bom, mas para quem conhece o Macedão, sabe que não.
Para vocês imaginarem como era nossa disciplina, uma das coisas que só me toquei agora, depois de mais de trinta anos, é que na hora de aula eu descia e subia para “casa” pelas escadas, como todo aluno fazia e no período da noite, quando eu não era aluno, subia e descia pelo elevador. Interessante é que não me lembro do meu pai ter nos dado essa recomendação, era uma coisa minha, disciplina natural.
Eu brinco até hoje que minha grande frustração era o fato de não ir de “perua” para a escola; eu morava nela!
Mas voltando ao fato de morar na escola, era como se eu morasse num desses condomínios que existem hoje aos milhares. Embaixo do meu apartamento tinha quadra poliesportiva, uma área enorme para brincar, parquinho, bar, etc.
Outra coisa que marcava muito era o silencio de sábado a partir da tarde e aos domingos. Aquele burburinho da escola, que chegou a ter mais de três mil alunos, virava um silencio total.
Era como se você estivesse ouvindo um som e de repente o desligassem, era o Domingo.
Quando eu era menor, andar sozinho aos sábados à noite pelos corredores e escadas vazias daquele prédio de quase 8.000 metros quadrados, era um grande desafio a minha coragem...
Também era muito legal nos fins de semana, juntar uns amigos e jogar futebol na quadra ou brincar pelo enorme terreno da escola. Quando aconteciam jogos aos sábados à tarde, eu ficava brincando no pátio e quando o jogo parava, eu e mais alguns garotos ficávamos chutando bola no gol até sermos expulsos pelos jogadores; daí voltávamos a jogar no pátio.
Como as instalações da escola eram modernas, eu, nas minhas horas vagas, vagava pelos vários departamentos. Muitas vezes ia no laboratório de eletrônica, onde o Kogima (chefe do pedaço) fez para mim um rádio “Galena”. Também gostava de ir a “gráfica”, usar o mimeógrafo, onde me lembro, fiz súmulas para um campeonatinho de futebol que organizei com amigos. No bar, algumas vezes ficava atrás do balcão ajudando o pessoal a servir os alunos do noturno na hora do intervalo. Circulava pelas salas da administração entre máquinas de escrever, mesas e cadeiras de escritório que me pareciam enormes nos primeiros anos que lá morei.
E as opções de laser que eu tinha? Por exemplo: a turma do Vocacional ia apresentar uma peça de teatro, eu ia ver; show de música, eu estava lá; jogo contra aos sábados, eu na arquibancada; palestra de alguma pessoa importante no teatro, eu estava lá no cantinho acompanhando.
Ir a biblioteca era uma boa. Muitas vezes ficava sozinho lá folheando livros, mesmo antes de saber ler. O livro que eu mais gostava era o dos “Sobrinhos do Capitão”.
Realmente eu cresci naquele prédio; nos primeiros anos eu tinha que pular ou pedir para o porteiro apertar o botão do quinto andar; quando saí de lá já os alcançava com facilidade. Quando não tinha ninguém para me ajudar, eu pulava e tentava acertar o botão e muitas vezes só conseguia o do terceiro andar; então descia lá e subia dois de escada...
Em 1972, quando passei para o científico, uma mudança radical: meu pai deixou a escola e depois de dez anos “descendo” para a escola (e dez anos nessa idade significam vinte), comecei a ir para as aulas pelas ruas, como todos meus colegas.
Agora, alguns amigos que não conviveram comigo naquela época, vão entender porque aqueles anos me marcaram tanto!



O prédio e meu apartamento no 5º andar; os corredores que me davam medo aos sábados a noite!; a quadra, grandes rachas...; o patio, nos fins de semena: meu quintal; eu de mascote num jogo de funcionários e profesores num sábado à tarde.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Trilha sonora"


Meu pai sempre gostou de música. Apesar de eu achar que ele não é um entendido de música como eu me “acho”, mas ele curte. Hoje, aos oitenta e sete anos, ele “baixa” musica no computador e tem um arquivo grande em tamanho e em ecletismo.
Desde pequeno, sempre ouvi música em casa.
No começo, eram os discos: Trini Lopes, Sinatra... até o dia que apareceu em casa um compacto duplo dos Beatles, com: “A Taste of honey”, “Twist and Shout”, “There’s a place” e “Do you want to know a secret”. Foi aí que comecei minha admiração pelo quatro de Liverpool e que vai ser importante e chave para o fechamento desse texto.
Como eu dizia, primeiro foram os discos de vinil; como meu pai é louco por novidades, ele colocou um “radio vitrola”, sim, uma “vitrolinha” no Simca Chambord e lá tocávamos os disquinhos. É claro que existiam alguns problemas com uma estrada esburacada, que fazia o disco pular e o fato dos discos ficarem dentro do carro, o que muitas vezes os deixavam tortos em virtude do calor.
Seguindo com as novidades, depois com as muitas viagens do meu pai para os EUA nos anos 60, apareceram os Tapes em cartucho (vocês lembram?). Além de um belo Tape de rolo marca Robert’s com entrada lateral para cartuchos, ele também colocou um tape de cartuchos no carro. Lembro que o cartucho mais ouvido era o do Bob Goldsboro com “Honey”. Até hoje sei a música inteira. Havia muitos outros, entre ele um do Herb Albert and Tijuana Brass.
Depois dos Cartuchos vieram as fitas cassete. Nos anos 70 ele trazia dos EUA e da Europa os últimos lançamentos e coisas novas, como três cassetes da Olivia Newton John que funcionam até hoje!
Paralelo aos cartuchos e cassetes, ele continuava trazendo discos de vinil. Sempre trazia os lançamentos e os primeiros lugares das paradas. Muitos, tenho até hoje.
Em 1974, ele trouxe o “Goodbye Yellow Brick Road”, do Elton John; era um disco duplo com capa tripla, com todas as letras, e ricamente ilustrado, que emprestei para uma amiga e depois de trinta e sete anos vim saber que ainda está vivo na casa de outra amiga do colégio com quem encontrei num desses almoços saudosistas que eu organizo.
Nessa época, como meu pai sabia que eu era fanático por Beatles, me trouxe em primeira mão o disco “Rock and Roll” de John Lennon, que só saiu aqui depois de alguns meses.
Toda essa introdução foi para contar que numa das suas ultimas viagens ele trouxe um CD com músicas dos Beatles (sim a evolução: vinil, cartucho, cassete e CD...). Sempre querendo me agradar, comprou em alguma liquidação uma caixa com três CDs de musicas dos Beatles em Orquestra.
Até que são arranjos legais, não rebuscados ou exagerados, até com certa fidelidade nas melodias, mas sempre tenho certa aversão a esse tipo de gravação.
Como não gosto de dizer que não gostei de alguma coisa sem experimentar, coloquei os discos para tocar no meu som e deitei no sofá.
Estava eu lá, de barriga para cima, com as mãos cruzadas sobre o peito e de olhos fechados, ouvindo aqueles arranjos suaves, me sentindo no “céu”, quando minha mulher passa, dá uma paradinha e fala:
“Legal, já temos discos para tocar no seu velório!”
Eu, hein?!

Na foto: A capa igual ao do meu primeiro disco dos Bealtes


quarta-feira, 6 de junho de 2012

O circo



Em 1935, chegou em Campinas um circo que se estabeleceu por algumas semanas nos campos onde hoje fica a Avenida Senador Saraiva, mais ou menos onde era o incendiado Eldorado.
Muitas crianças foram ver a montagem, e curiosos ver os artistas de perto.
Num final de tarde, duas crianças, uma das quais morava num sítio no Descampado, ao lado de onde hoje fica o Aeroporto de Viracopos, chegaram na entrada ao lado da bilheteria e ficaram esperando a abertura dos guichês para compra de ingressos. 
Depois de alguns minutos, curiosos, deram uma olhada para o lado de dentro e nada, não aparecia ninguém.
Súbito, um artista aparece e pergunta o que eles queriam. 
Assistir à função, responderam as crianças.
O homem, deixou os dois entrarem, colocou dois banquinhos, acendeu uma luz e os deixou por alguns minutos.
Quando voltou, os meninos perguntaram quando começava a apresentação e tiveram uma resposta surpreendente:
”Ah, só tem apresentação amanhã, háháháhá!”
Anos depois, as crianças vieram a saber que aquele, que estava à paisana, era o palhaço principal do show, ninguém menos que o Arrelia!
Ah, quem eram as crianças?
Uma era Alberto Macedo Junior, o Albertinho, meu pai!

domingo, 3 de junho de 2012

"Será que ninguém me leva a sério!!"

No final dos anos 70 uma amiga de infância ia estrear como atriz na extinta TV Tupi. Eu dizia para alguns amigos que eu a conhecia, etc, etc.
Como sou muito brincalhão, meus amigos achavam que era lorota, que eu dizia isso porque ela era de Campinas.
Logo depois ela foi para a Globo e estourou no Brasil e meus amigos ainda achavam que era historia minha.
Mas era verdade, eu a conheci, e ela já era linda aos 11 anos. Depois eu a encontrei em Parati já quase aos 18. No finalzinho dos anos 70, antes do sucesso, ela foi dar aulas no CEL-LEP onde sempre conversávamos.
De lá, foi para a estréia na Tupi. Nunca fomos amigos íntimos, foram encontros esporádicos através dos anos.
No inicio dos anos 80, já famosa, ela veio descansar uns dias aqui no Hotel (Duas Marias, onde eu morava) e refizemos o contato, que há alguns anos não fazíamos.
Acho que ela nem lembrava muito de mim, mas o que aconteceu uma semana depois foi muito engraçado.
Uma das amigas que não acreditavam que eu realmente conhecia a jovem atriz, veio passar uns dias aqui em Jaguariúna e certa tarde fomos ao “shopping” em Campinas.
Quando eu descia uma escada rolante ao lado da minha amiga, escuto uma voz feminina:
“Psiu, Silvio!”
Era minha amiga atriz, que por causa do nosso rápido e recente encontro uma semana antes, lembrava de mim e do meu nome. Apresentei-a a minha amiga se Sampa, trocamos algumas palavras rápidas e nos despedimos.
Logo em seguida, quase que instantaneamente minha amiga disse:
“Eu jurava que durante esses anos todos você estava tirando sarro quando dizia que a conhecia”.
Será que ninguém me leva a sério?

Na foto: linda, simpática, talentosa e inteligente...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Estória ou história - “Uma lembrança não muito boa”

Quinta feira voltei ao ginásio do Ibirapuera depois de anos sem ir lá. Nos anos sessenta e setenta vi muitos eventos no complexo: tênis, basquete, Holiday on ice, Harlen Globe-trotters, etc. O que me trás muitas boas lembranças.
Antes de chegar no ginásio, parei no Mcdonalds para almoçar já que não sabia como era a estrutura gastronômica do torneio.
No “Mac” sentaram ao meu lado, dois soldados do exercito que fica ali ao lado.
Nessa hora lembrei de um susto que passei numa noite em 1971.
Antes, um adendo para os mais jovens que não eram nascidos entre 1964 e 1979 (mais ou menos).
Em 1971, vivíamos com a ditadura (nos dois sentidos...). Qualquer coisa era pretexto para você ser acusado de “Comunista”: uma música, um artigo, uma roda de amigos. Só quem viveu, sabe como foi.
Então vamos para aquela noite de Dezembro de 1971:
Eu e meu saudoso amigo Jorge Heide estávamos num taxi a caminho do apartamento do também colega de classe Flavio Duprat para uma festa; No "fusca", o motorista Português, ia batendo papo de taxi; falando de futebol. Estava meio distraído e quando estava na frente do quartel na Abílio Soares, numa manobra brusca, desviou das “tartarugas” que ficavam do lado direito da rua.
Nesse momento os soldados que estavam na rua mandaram ele parar e de dentro do quartel saíram mais uns oito empunhando fuzis e metralhadoras cercaram o carro.
“Pára, pára!”
Eu gelei. O oficial mandou descermos, pediu os documentos e perguntou por que o “Portuga” fez a manobra. Ele disse, com o pouco de voz que sobrou, que desviou das “tartarugas”.
O oficial, gritando como se estivesse falando com um soldado aspirante, disse que as “tartarugas” estavam lá para passar por cima.
Vocês imaginam como eu e o Heide ficamos; petrificados! Explicamos que éramos passageiros e o oficial até pediu desculpas; mas só para nós dois, não aliviou o “Luso”.
Ali poderia ter acontecido uma tragédia.
Se o motorista não parasse?
Os soldados podiam metralhar o carro e eu e o Heide ainda seríamos acusados de ser terroristas pelo Coronel Erasmo Dias. Talvez até plantassem uma armas no carro para provar isso.
Na verdade, só pensei nessa hipótese alguns anos depois, quando tomei ciência exata do que era possível acontecer naqueles dias de chumbo.
Ah... eu não sujei as calças..
O efeito maior foi psicológico; anos depois, quando já tinha carta e carro, evitava de todas as maneiras passar na frente do quartel na Abílio Soares.

Na foto: meu fim podia ser como o de Marighella! Ninguem ia acreditar que eu não sabia o que era ALN, aparelho, etc.