quarta-feira, 16 de novembro de 2016

“Meu pai e o relógio”

Nos anos 60, nos dias de formatura no anfiteatro do Liceu Eduardo Prado o ritual era sempre o mesmo.
Bem antes da hora meu pai já estava lá vendo se tudo estava em ordem.
Quando faltavam uns dez minutos para o inicio da cerimônia, chamava os Professores e diretores para tomarem seus lugares no palco, que tinha a cortina fechada.
Apesar de alguns Professores e diretores alertarem que nem todos os pais e alunos estivessem lá, pontualmente, na hora marcada há mais de seis meses, ele pedia para o eletricista Antonio Maria Pires, que cuidava da luz, som do teatro, para abrir a cortina.
Era uma correria!
Suas primeiras palavras eram: “em respeito aos pais, alunos e professores que chegaram no horário, dou como aberta a cerimônia de formatura do curso...”.
Ele sempre falava, e escreveu no seu livro que a razão daquele grande relógio em cima do prédio da escola era para dar uma sensação de exatidão e pontualidade.
Era pontual tanto nos seus compromissos de negócios, como num chopp no “Bolinha”. Marcava hora, estava lá!
Sua mania com pontualidade era exemplar... e cruel!
Íamos para Campinas quase todos finais de semana. Almoçávamos ora na casa da Vó Maria, ora na da Vó Emilia.
Mas era praxe, meu pai saia rumo a São Paulo sempre às 16 horas; nem mais, nem menos.
Se estivéssemos no cinema, na sessão das duas, perdíamos o final do filme. Saíamos correndo do cinema a poucas quadras do apartamento da Vó para não perdem o trem, digo, o carro.
Às 16 horas ele dava partida no seu Simca, sempre com a frase: “quem vai, vai... quem não vai, fica!”
E ficava mesmo!
Certa vez, dei bobeira jogando tênis com meus primos na Hípica e fiquei para trás.
Aos doze anos, ainda não pegava ônibus sozinho e contei com a benevolência e carinho do meu tio Gê, que me levou até a Capital.
Depois disso, meu pai me levou até o juizado de menores e fizemos uma carteira (como uma habilitação) que me autorizava viajar desacompanhado “por via terrestre, aérea ou marítima”, como estava escrito no documento.
Aquilo me deu uma liberdade enorme.
Ia para Campinas na hora que queria e voltava também. Isso para um moleque de treze anos era uma maravilha.
Quando comprou e começou a vir para a fazenda, em 1969, saia de São Paulo logo depois do almoço. Eu vinha no final da tarde, depois das aulas com minha irmã. Na maioria das vezes ficava em Campinas para jogar tênis na Hípica no sábado.
A partir do momento que recebi minha carteirinha, fiquei mais livre.
Quando passei para o Cientifico (antigo, né?), tinha aulas aos sábados, e muitas vezes vinha para Campinas de trem.
Herdei muito dessa pontualidade, mesmo porque vivo de horários (nas aulas). Raramente, chego atrasado para trabalhar, foram pouquíssimas vezes desde que dou aulas que um aluno me esperou depois da hora marcada.
Sou pontual desde a adolescência.
Até meu casamento foi pontual, nada de atraso, às 20 horas a noiva estava entrando na Igreja.
Até hoje quando alguém da família olha no relógio e apressa os outros, dizemos:
“Tá com pressa Seu Macedo?!”
Nas fotos: O relógio do Liceu.
Meu pai abrindo a formatura de uma classe do Vocacional nos anos 60 e a mesa com os Professores.

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