Lembramos
de muitas coisas interessantes de nossa infância e adolescência.
A coisa que
mais me marcou foi o fato de ter morado em cima da minha escola desde os cinco
anos de idade.
Não, não
fique com pena! Eu não era um “aluno problema” internado numa escola (era assim
que ameaçavam as crianças naquela época; hoje ameaçam tirar o celular ou a
internet...).
Na verdade
meu pai era Diretor e proprietário de uma escola em São Paulo, e fez um grande
apartamento no quinto andar do prédio.
Agora você
vai pensar: que moleza, filho do dono, etc...
Algumas
vezes isso era bom, mas para quem conhece o Macedão, sabe que não.
Para vocês
imaginarem como era nossa disciplina, uma das coisas que só me toquei agora,
depois de mais de trinta anos, é que na hora de aula eu descia e subia para
“casa” pelas escadas, como todo aluno fazia e no período da noite, quando eu
não era aluno, subia e descia pelo elevador. Interessante é que não me lembro
do meu pai ter nos dado essa recomendação, era uma coisa minha, disciplina
natural.
Eu brinco
até hoje que minha grande frustração era o fato de não ir de “perua” para a
escola; eu morava nela!
Mas
voltando ao fato de morar na escola, era como se eu morasse num desses
condomínios que existem hoje aos milhares. Embaixo do meu apartamento tinha
quadra poliesportiva, uma área enorme para brincar, parquinho, bar, etc.
Outra coisa
que marcava muito era o silencio de sábado a partir da tarde e aos domingos.
Aquele burburinho da escola, que chegou a ter mais de três mil alunos, virava
um silencio total.
Era como se
você estivesse ouvindo um som e de repente o desligassem, era o Domingo.
Quando eu
era menor, andar sozinho aos sábados à noite pelos corredores e escadas vazias daquele
prédio de quase 8.000 metros
quadrados , era um grande desafio a minha coragem...
Também era
muito legal nos fins de semana, juntar uns amigos e jogar futebol na quadra ou
brincar pelo enorme terreno da escola. Quando aconteciam jogos aos sábados à
tarde, eu ficava brincando no pátio e quando o jogo parava, eu e mais alguns
garotos ficávamos chutando bola no gol até sermos expulsos pelos jogadores; daí
voltávamos a jogar no pátio.
Como as
instalações da escola eram modernas, eu, nas minhas horas vagas, vagava pelos
vários departamentos. Muitas vezes ia no laboratório de eletrônica, onde o
Kogima (chefe do pedaço) fez para mim um rádio “Galena”. Também gostava de ir a
“gráfica”, usar o mimeógrafo, onde me lembro, fiz súmulas para um campeonatinho
de futebol que organizei com amigos. No bar, algumas vezes ficava atrás do
balcão ajudando o pessoal a servir os alunos do noturno na hora do intervalo.
Circulava pelas salas da administração entre máquinas de escrever, mesas e
cadeiras de escritório que me pareciam enormes nos primeiros anos que lá morei.
E as opções
de laser que eu tinha? Por exemplo: a turma do Vocacional ia apresentar uma
peça de teatro, eu ia ver; show de música, eu estava lá; jogo contra aos
sábados, eu na arquibancada; palestra de alguma pessoa importante no teatro, eu
estava lá no cantinho acompanhando.
Ir a
biblioteca era uma boa. Muitas vezes ficava sozinho lá folheando livros, mesmo
antes de saber ler. O livro que eu mais gostava era o dos “Sobrinhos do
Capitão”.
Realmente
eu cresci naquele prédio; nos primeiros anos eu tinha que pular ou pedir para o
porteiro apertar o botão do quinto andar; quando saí de lá já os alcançava com
facilidade. Quando não tinha ninguém para me ajudar, eu pulava e tentava
acertar o botão e muitas vezes só conseguia o do terceiro andar; então descia
lá e subia dois de escada...
Em 1972,
quando passei para o científico, uma mudança radical: meu pai deixou a escola e
depois de dez anos “descendo” para a escola (e dez anos nessa idade significam
vinte), comecei a ir para as aulas pelas ruas, como todos meus colegas.
Agora,
alguns amigos que não conviveram comigo naquela época, vão entender porque
aqueles anos me marcaram tanto!
O prédio e meu apartamento no 5º andar; os corredores que me davam medo aos sábados a noite!; a quadra, grandes rachas...; o patio, nos fins de semena: meu quintal; eu de mascote num jogo de funcionários e profesores num sábado à tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário