sexta-feira, 1 de junho de 2012

Estória ou história - “Uma lembrança não muito boa”

Quinta feira voltei ao ginásio do Ibirapuera depois de anos sem ir lá. Nos anos sessenta e setenta vi muitos eventos no complexo: tênis, basquete, Holiday on ice, Harlen Globe-trotters, etc. O que me trás muitas boas lembranças.
Antes de chegar no ginásio, parei no Mcdonalds para almoçar já que não sabia como era a estrutura gastronômica do torneio.
No “Mac” sentaram ao meu lado, dois soldados do exercito que fica ali ao lado.
Nessa hora lembrei de um susto que passei numa noite em 1971.
Antes, um adendo para os mais jovens que não eram nascidos entre 1964 e 1979 (mais ou menos).
Em 1971, vivíamos com a ditadura (nos dois sentidos...). Qualquer coisa era pretexto para você ser acusado de “Comunista”: uma música, um artigo, uma roda de amigos. Só quem viveu, sabe como foi.
Então vamos para aquela noite de Dezembro de 1971:
Eu e meu saudoso amigo Jorge Heide estávamos num taxi a caminho do apartamento do também colega de classe Flavio Duprat para uma festa; No "fusca", o motorista Português, ia batendo papo de taxi; falando de futebol. Estava meio distraído e quando estava na frente do quartel na Abílio Soares, numa manobra brusca, desviou das “tartarugas” que ficavam do lado direito da rua.
Nesse momento os soldados que estavam na rua mandaram ele parar e de dentro do quartel saíram mais uns oito empunhando fuzis e metralhadoras cercaram o carro.
“Pára, pára!”
Eu gelei. O oficial mandou descermos, pediu os documentos e perguntou por que o “Portuga” fez a manobra. Ele disse, com o pouco de voz que sobrou, que desviou das “tartarugas”.
O oficial, gritando como se estivesse falando com um soldado aspirante, disse que as “tartarugas” estavam lá para passar por cima.
Vocês imaginam como eu e o Heide ficamos; petrificados! Explicamos que éramos passageiros e o oficial até pediu desculpas; mas só para nós dois, não aliviou o “Luso”.
Ali poderia ter acontecido uma tragédia.
Se o motorista não parasse?
Os soldados podiam metralhar o carro e eu e o Heide ainda seríamos acusados de ser terroristas pelo Coronel Erasmo Dias. Talvez até plantassem uma armas no carro para provar isso.
Na verdade, só pensei nessa hipótese alguns anos depois, quando tomei ciência exata do que era possível acontecer naqueles dias de chumbo.
Ah... eu não sujei as calças..
O efeito maior foi psicológico; anos depois, quando já tinha carta e carro, evitava de todas as maneiras passar na frente do quartel na Abílio Soares.

Na foto: meu fim podia ser como o de Marighella! Ninguem ia acreditar que eu não sabia o que era ALN, aparelho, etc.

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