sexta-feira, 4 de julho de 2014

“O destino...”

Lembro-me bem. Era uma quarta-feira como a de ontem, mas em 1969, e no Pacaembu jogariam Corinthians e Cruzeiro (hoje vão jogar no Canindé).
O time de Minas era sensação desde 66, quando quebrou a hegemonia do Santos no cenário do futebol Brasileiro.
Tinha craques como Dirceu Lopes, Eduardo, Piazza e Tostão.
Eu não imaginava, mas presenciaria uma cena que entraria para a história do futebol brasileiro e é lembrada até hoje.
Fui ao jogo com o Expedito, motorista do meu pai, que me levava junto com alguns amigos aos jogos no Pacaembu, Morumbi e claro, no Palestra Itália. Fazíamos uma “vaquinha’ para pagar o ingresso dele (e uma cervejinha...) e lá íamos nós no Fusca quatro portas 1600 branco do meu pai.
Eu e alguns amigos tínhamos times diferentes, mas além dos jogos dos nossos times, costumávamos assistir qualquer jogo da rodada.
Murilo e Márcio “Joe” eram Santistas. Edmundo era São Paulino. Márcio Gaspar torcedor do Flu e eu, Arnaldo e o Marcos Carioba, Palmeirenses, com direito a bandeira.
Nesse dia estávamos somente eu e o Expedito.
Duas coisas aconteceram nesse jogo que eu não esqueço:
Primeiro, um Corintiano que estava ao meu lado nas cadeiras sem número “larapiou” meu radinho de pilhas, onde escutava os jogos do Palestra e a rádio Excelsior AM.
Como acontecia no meio do jogo e fazia parte do ritual, era hora da merenda... Quando fui pegar e pagar o “cachorro quente”, coloquei o radio do meu lado esquerdo, fiz todos os trâmites e quando me virei para pegar meu radinho, não estava mais lá!
Nem o aparelho, nem o Corintiano...
Porém, uma jogada que seria normal foi fatídica, histórica e lamentável.
Quando Tostão e o zagueiro Ditão do Corinthians dividiram uma bola na entrada da área, o beque deu um chutão que pegou de raspão no olho do atacante Mineiro, um dos melhores jogadores do Brasil.
O resto da história, a maioria de vocês sabem: deslocamento de retina, operação em Houston, campeão da Copa de 70 com meia visão e o fim da carreira meses depois de ir para o Vasco da Gama.
Tostão voltou à Medicina e quase não assistia ou falava de futebol, até que anos mais tarde voltou e virou comentarista e articulista de um jornal.
Vejam como é o destino: eu perdi meu radinho e ele a carreira.
E imaginem se naquela dividida não estivesse o Ditão e sim o Ramos Delgado, Roberto Dias ou Luis Pereira, com certeza nenhum deles daria um chutão; sairia jogando com muita classe e o “Tusta” jogaria e nos encantaria por mais alguns anos!

“Vovós..."

Eu tive duas avós, o que era o normal, já que nos dias de hoje muitas crianças tem mais de duas...
Minha avó paterna, Dona Maria, se foi quando eu tinha uns nove anos, por isso não convivi muito com ela, já que eu morava em São Paulo e ela em Campinas.
Era uma senhora alegre, que cozinhava muito bem e nos recebia na sua casa da Andrade Neves com muito carinho.
Com a minha Vó materna, Dona Emilia, tive um pouco mais de convivência. Era sempre preocupada com os netos.
Lembro bem das festas de Natal no seu pequeno apartamento na Rua Coronel Quirino, no centro de Campinas.
Todos que chegavam, depositavam seus presentes ao lado da mesa da sala. Quando chegava uma certa hora, ela se sentava ao lado da mesa e começava a distribuir, um por um os presentes:
“Do papai e mamãe para o Silvio”, lá ia eu pegar o presente e correr para um dos quartos para abrir.
 “Dos padrinhos para o Silvinho”, eu corria de volta, pegava mais um presente, torcia que fosse um brinquedo e corria para o quarto, “QG” das crianças (os homens ficavam na cozinha comendo petiscos e tomando cerveja...)
Porém, o que mais me marcou na minha vó Emília foi que eu só me lembro de vê-la vestindo preto, cinza e branco.
Sim, ela ficou viúva antes de eu nascer, e sempre vestiu roupas sóbrias e em tons de cinza... (opa!).
Digo isso porque hoje minhas amigas avós são jovens, modernas, ativas e lindas, claro!
Diferente da figura antiga da Vovó, também linda, mas que ficava em casa, fazia bolo e tricô...
Hoje elas fazem isso, mas também “otras cozitas mas...”
Então...parabéns minhas amigas jovens, modernas e lindas avós!


Na foto: minha Vó Emilia, ao lado da piscina, mas sempre com sua sóbria indumentária...